Prêmio Biblioteca Nacional e Finalista Prêmio Jabuti + Bate-papo com a autora

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Prêmio Biblioteca Nacional e Finalista Prêmio Jabuti + Bate-papo com a autora

Atualizamos esse post para comemorar ainda mais! "Um lençol de infinitos fios" ganhou o Prêmio Glória Pondé de Literatura Juvenil da Biblioteca Nacional! Viva e mais um viva!

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Semana passada recebemos essa notícia deliciosa: "Um lençol de infinitos fios", de Susana Ventura, é um dos dez finalistas do Prêmio Jabuti na categoria Juvenil!

É maravilhoso saber que um livro que carrega tantos aspectos relevantes, de maneira tão sensível, ganhou mais esse espaço de destaque. :)

A história de Maria, uma garota boliviana, e de seus amigos, se cruza com a história da haitiana Ludmi, que vem ao Brasil em busca de seu pai. Esse encontro acontece no centro de São Paulo, na biblioteca Mário de Andrade.

O livro aborda temas como a imigração, diversidade cultural, identidade latinoamericana, racismo. Mostra como a escola pode ser um espaço de encontros e trocas frutíferas entre comunidade, famílias e crianças.

"Um lençol de infinitos fios" é uma delicada narrativa sobre o valor da amizade e a descoberta do poder e da solidariedade.

Fizemos algumas perguntas à autora, Susana Ventura. :)
Acompanhe:

Como surgiu a ideia para o "Um lençol de infinitos fios"? 
  
Surgiu a partir de minha observação nos ônibus e metrôs que utilizo na cidade de São Paulo. Um dia, no início de 2014, eu tomei um ônibus no Largo da Batata. Na parada seguinte subiu um rapaz. Ao ver a reação das pessoas àquele jovem de rosto sereno eu me assustei. Ele era obviamente estrangeiro, pela vestimenta, modo de andar. Logo descobri, conversando, que era haitiano. Eu já vinha de uma proximidade grande com a comunidade boliviana, que durava alguns anos, e reparava naquele estranhamento desagradável na presença de bolivianos, sobretudo nos metrôs, por parte dos usuários. Naquela hora, naquele ônibus, eu vi que precisava fazer alguma coisa, porque o Haiti é um lugar absolutamente incrível, com uma história impressionante de lutas e resistência a desastres de toda ordem e um passado riquíssimo. Foi então que resolvi que, tão logo surgisse a oportunidade eu iria escrever um livro que relacionasse a comunidade boliviana com a então recente imigração haitiana para São Paulo.

Você optou por construir a narrativa através de diferentes narradores (temos Maria e Ludmi, personagens e um narrador onisciente) e também por utilizar diferentes recursos, como cartas, posts de redes sociais, etc. Como foi essa construção?

A escolha se deu quando eu percebi que mostrar a situação de várias comunidades que se entrelaçavam, a de pessoas que se relacionavam no contexto escolar e também no caminhar pela cidade de São Paulo e seus equipamentos de cultura, de reunião e de comércio, exigiria de mim uma habilidade como escritora que pudesse mostrar a diversidade de modos de apreender a realidade e também a sensação de estar numa megalópole como São Paulo, bombardeada pelos discursos que hoje compreendem todos esses meios e às vezes uma coexistência de estímulos de épocas diferentes: a carta, o jornal em papel, a rede social.

Os temas abordados no livro, como a imigração, a diversidade e os diferentes aspectos culturais, a identidade latinoamericana, o racismo sofrido por uma das personagens, a escola como espaço comunitário onde acontecem trocas e encontros, são muito relevantes. Nos conte um pouco sobre essas escolhas.

Escolhi falar a partir do território que eu conheço bem: o sistema escolar público que, ainda bem, é universal e acolhe crianças independentemente dos pais estarem ou não documentados no país. Nas escolas públicas da cidade de São Paulo há crianças oriundas de mais de 20 países diferentes, muitas delas imigrantes e refugiadas. Depois disso, as organizações que se dedicam à recepção de pessoas que chegam à cidade vindas de outros países e que, a partir do primeiro momento de acolhimento, começam a procurar estabelecer sua vida no Brasil e, por fim, os espaços de convivência comunitária mais democráticos: a feira livre, que é forte em São Paulo e as bibliotecas públicas, lugares por excelência do abraço à diversidade e à busca pelo conhecimento.

Você viajou bastante pela América do Sul e também viveu em diferentes lugares. Como essas experiências te influenciaram na construção do "Um lençol de infinitos fios"? 

Por questões pessoais fui morar no Peru aos 22 anos, no início da década de 1990, quando a melhor tecnologia que tínhamos ainda eram o telefone e o fax. Isso fez com que fosse bem difícil obter informações sobre o país, que não era destino turístico naquela época, antes de ir viver lá. Fui para uma vida bem normal, só que eu não sabia falar castelhano e tratei de me matricular numa escola onde comecei a aprender. Para minha sorte eu encontrei uma professora maravilhosa, que se chamava Maria Luisa, que se empenhou em me ensinar sobre o país em sua riqueza e peculiaridade. Esta experiência de país mudou minha vida para sempre. A seguir, passei os dois anos seguintes em diferentes províncias (equivalentes aos estados no Brasil) no noroeste da Argentina. Fiquei mais tempo em Salta, que fica bem próxima da divisa com o Chile e a Bolívia, o que me fez conhecer muito da realidade rural e semi rural desses interiores e também das expectativas e jeitos de ver o mundo das muitas pessoas com quem convivi. Compreendi que havia uma identidade latinoamericana e desejei muito estudar sobre ela. Estudei um pouco mas foi muitos anos depois, quando me tornei escritora que voltei ao tema e foi em "Um lençol de infinitos fios" que consegui dizer algo que realmente desejava sobre nossos laços profundos e nem sempre perceptíveis.

O que significa "Um lençol de infinitos fios"?

Há um provérbio haitiano que diz "Meu vizinho é meu lençol". O que é muito belo porque expressa, na linguagem, essa percepção de que todos dependemos de todos, que os que estão ao meu lado são os meus pontos de apoio. O que nos dá a dimensão da humildade ao mesmo tempo em que nos ajuda a sermos mais afetuosos uns com os outros. Ao procurarmos um título para o livro, Eny Maia, que o editou, teve a ideia de que a teia de relações mostradas no livro eram a ampliação do provérbio, porque quando a gente sai para o mundo, como ocorreu com as personagens do livro, os fios são estendidos. Na narrativa, na busca pelo seu pai, a haitiana Ludmi é ajudada por essa rede de solidariedade impensada, mas existente e atuante. E agora, com a pandemia, descobrimos como precisamos fortalecer a solidariedade e a colaboração para continuar vivos.
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