Bate-papo com o autor César Mallorquí
Em 2015 conversamos com o premiado autor espanhol César Malloquí. Achamos esse papo tão bacana, que resolvemos trazê-lo novamente para vocês. Na ocasião, reunimos perguntas da equipe da editora e também de alguns blogs literários que tinham lido títulos do autor publicados por nós: As lágrimas de Shiva e A Ilha de Bowen.
Vamos lá? :)
Quem dera eu soubesse; seria maravilhoso conhecer a mim mesmo... Mas tentarei fazer uma aproximação: nasci em Barcelona, mas vivo em Madri. Sou muito alto, muito grande e muito calvo. Tenho mais anos do que gostaria, sou casado e tenho dois filhos, Óscar e Pablo, de 28 e 24 anos, respectivamente. Trabalhei como jornalista, com publicidade na área de criação e, desde 1995, como escritor profissional. Sou aficionado de literatura, cinema, fotografia, quadrinhos, viagens... Adoro viajar e, embora tenha visitado vários países da América, nunca fui ao Brasil! Um erro que espero corrigir assim que puder. O que menos gosto em mim mesmo? A impaciência. O que mais gosto? Minha imaginação e meu senso de humor, porque tornam a vida mais agradável (e espero que façam o mesmo com a vida daqueles que me conhecem e que me leem).
Meu pai, José Mallorquí, foi um escritor de novela popular muito famoso nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado; não só na Espanha, como também em muitos países da Europa e América. Sua criação mais famosa foi a série de novelas El Coyote, um justiceiro mascarado que atuava na Califórnia do século XIX. A série El Coyote teve três edições no Brasil com o título de O Coyote: a primeira, da Editora Monterrey, nos anos 40 e 50.
Pois bem, meu pai era escritor, minha casa era cheia de livros, toda minha família lia regularmente; assim, respirei literatura desde o dia do meu nascimento. Não foi estranho, então, começar a escrever quando criança. Publiquei meu primeiro relato quando tinha 15 anos e comecei a colaborar com La Codorniz (uma revista de humor muito famosa naqueles tempos) com apenas 17. No entanto, depois de me dedicar ao jornalismo durante uns anos, comecei a trabalhar com publicidade e deixei de escrever ficção durante uma longa década.
Depois, nos anos 90, quando cansei de fazer anúncios, voltei a escrever e ganhei vários prêmios, tanto nos gêneros fantástico e ficção científica como de literatura juvenil.
Então, por que sou escritor? Eu diria que por três motivos: em primeiro lugar, por herança. Em segundo lugar, por acaso. E, em terceiro lugar, porque escrever literatura, se você gosta, é um dos melhores trabalhos do mundo.
Trabalho na minha casa, em um escritório de uns quinze metros quadrados, com uma janela às minhas costas e duas grandes estantes à esquerda e à direita. Na minha frente, na parede, há um enorme pôster do filme King Kong (a primeira versão, de 1933) e uma reprodução da Pedra de Roseta. Nas prateleiras das estantes, além de muitíssimos livros, há um montão de “objetos estapafúrdios”. Por exemplo, bonecos do Tintin, Watchmen, Terminator, uma coleção de robôs de corda, caleidoscópios, brinquedos de latão, giroscópios, máquinas a vapor em miniatura... enfim, uma loja de bugigangas.
Enquanto estou escrevendo um livro (agora, por exemplo), meu escritório vai ficando bagunçado progressivamente; ele se enche de papéis, e há um montão de livros de consulta pelo chão. Depois, quando acabo de escrever a novela, arrumo tudo. E daí a bagunça recomeça.
Acho que me sinto à vontade escrevendo qualquer gênero. Quer dizer, o que me interessa é a história que quero contar, e não o gênero ao qual ela pertence. No entanto, se tivessem me feito essa pergunta há, digamos, vinte anos, teria respondido que meu gênero favorito para escrever era a fantasia e a ficção científica. Mas, agora diria que o gênero com o qual me dou melhor, como escritor, é o de aventura clássica.
E, quanto à leitura, aprecio qualquer gênero, mas suponho que tenho um carinho especial pelo fantástico, ficção científica e suspense.
Em julho de 1969, quando o homem pisou na Lua pela primeira vez, eu acabava de fazer dezesseis anos. Fui testemunha daquela época, por isso não precisei pesquisar para escrever sobre ela. Na verdade, em As Lágrimas de Shiva há muitos detalhes tirados da minha própria biografia.
Perguntas sobre A Ilha de Bowen
cuidado! pode conter spoilers... ;)
Há tempos percebi que, em um romance, a história que você conta e os personagens que a protagonizam são igualmente importantes. Se os personagens não o interessam, por que iria ficar interessado no que pode acontecer com eles? No caso de A Ilha de Bowen, isso era ainda mais importante, pois eu sabia que iria ser um livro longo e, além disso, queria escrevê-lo no estilo do gênero clássico de aventuras. Isso significa que o romance teria uma primeira parte muito grande antes de começar a aventura. Como manter o interesse do leitor durante essas páginas em que não acontece grande coisa? Bem, além de criar muito mistério, dar ao leitor os personagens mais fascinantes que eu conseguisse imaginar e oferecer-lhes os diálogos mais intensos que pudesse escrever.
Por outro lado, do meu ponto de vista de escritor, eu sabia que iria levar pelo menos um ano para escrever o romance. Muito tempo. Por isso criei um grupo de personagens com as quais eu me daria bem, o tipo de gente com a qual eu gostaria de fazer uma viagem tão longa.
Mudaria algum personagem? Bem, no geral não. Um caso curioso é o de Kathy, filha de Elisabeth Faraday. Conforme ia avançando a história, menos eu gostava dela. E muitos leitores acham o mesmo: é um personagem difícil de agradar. No entanto, se um personagem escapa do meu controle e fica um pouco antipático, significa que ele está vivo e tem autonomia. Isso é bom, por isso deixei como estava. Afinal, em uma viagem, você não vai se dar bem com todo mundo.
Não obstante, Aleksander Ardán, o antagonista da narrativa, é um personagem que se perde um pouco no final da história. Muitos leitores apontaram isso, e acho que têm razão. Suponho que mudaria um pouco esse personagem; mas já é tarde demais...
O primeiro personagem que desenvolvi, antes de escrever uma única linha, foi o professor Zarco e, quase simultaneamente, Samuel Durango e Elisabeth Faraday. Depois, fui criando os demais. Havia um problema quanto aos três personagens principais: Zarco tem uma personalidade muito forte e seria fácil eclipsar os demais personagens, por isso usei a senhora Faraday como contrapeso. Ela é seu oposto luminoso, por assim dizer.
Bem, o personagem de Samuel Durango era muito importante, porque ia assumir um grande protagonismo no final da história. No entanto, do lado de Zarco, o pobre Samuel, um jovem tímido e retraído, corria o risco de simplesmente desaparecer, de passar despercebido. Para evitar isso, ele é o único personagem que permiti se expressar em primeira pessoa, reproduzindo as páginas de seu diário pessoal.
Quanto a minha forma de realizar as descrições, utilizo uma técnica especial. Em vez de descrever tudo de uma vez só, em passagens longas, vou intercalando as descrições com ação e diálogo, de forma que o leitor possa perceber o ambiente e visualizar as cenas sem esforço.
Há um tempo uma jornalista me perguntou algo que me deixou desconcertado: por que todas as minhas personagens femininas são meninas ou mulheres fortes e independentes, com muita personalidade? Eu nunca havia pensado sobre isso, mas depois de refletir um pouco me dei conta de que era isso mesmo. Minha resposta foi: “Suponho que é porque eu goste de mulheres que são assim.” E acrescentei: “Até me casei com uma delas”. Inclusive, suponho que a inspiração para a senhora Faraday veio de María José, minha mulher.
Bastou começar a planejar a história para me dar conta de que tinha um problema: Zarco é um personagem tão potente, tão avassalador, que corria o risco de tomar posse por completo da história. Para solucionar, era preciso criar um personagem tão forte como o professor, alguém que pudesse enfrentar-se com ele, e esse personagem foi a senhora Faraday. Uma mulher com tanto caráter e tenacidade quanto Zarco; mas, enquanto ele é um bruto mal-humorado, ela é pura amabilidade e cortesia.
Zarco é um personagem muito divertido, que chama a atenção, alguém com quem se deseja estar... na ficção. Porque na vida real uma pessoa como Zarco seria bastante insuportável. Imagine estar com alguém que, ou bem te ignora (como faz com Sam durante toda a história) ou bem te transforma no alvo de dardos verbais. Imagine, além disso, se fosse seu professor, que tem autoridade sobre você... isso não seria tão divertido, não é verdade?
Os colaboradores de Zarco (Sarah, Cairo, Verne...) gostam dele porque o conhecem e sabem que, por trás da aparência de homem das cavernas, ele tem um montão de coisas boas. Mas se não o conhecem... Bem, a senhora Faraday não o suportava no início, Kathy nunca chega a se dar muito bem com ele. E Samuel o aceita porque, enfim, ele é um bom companheiro. O caso é que felizmente eu nunca tive um professor como Zarco.
Sabe em quem me inspirei para criar Zarco? Você vai se surpreender com a resposta: em mim mesmo. Sou uma pessoa com muita personalidade, muito impaciente e com certa propensão ao sarcasmo. Pois bem, parti daí para criar o personagem, mas exagerando nessas características. E acrescentando outras, como o machismo, porque eu sou o contrário. Zarco não sou eu, mas sua essência está em mim.
Temo que a minha resposta não vá ser lá muito original. Como acontece com a maior parte dos leitores, meu personagem favorito é o professor Zarco. Mas bem, a senhora Faraday e Samuel Durango estão bem próximos, e o Samuel talvez seja o personagem mais humano de todos.
Se planejo escrever outra história protagonizada pelo professor Zarco e a equipe do SIGMA? Sim, todos os dias, tenho muita vontade. Inclusive tenho pensado em um dos cenários que usaria: o Tibet. Mas... Escrever A Ilha de Bowen foi um trabalho muito longo e complexo que me absorveu demais. De algum modo, essa história se apoderou de mim e, quando a acabei, tive dificuldades em escrever. Foi uma experiência muito intensa, quase traumática. Por isso, agora prefiro escrever sobre outras coisas, me refrescar com histórias diferentes. Mas é muito provável que algum dia retome Zarco, Cairo, Sarah, Samuel, Verne e Lisa Faraday... e os faça protagonizar uma nova aventura. Veremos.
Vamos lá? :)
Quem é César Mallorquí? (Biruta)
Quem dera eu soubesse; seria maravilhoso conhecer a mim mesmo... Mas tentarei fazer uma aproximação: nasci em Barcelona, mas vivo em Madri. Sou muito alto, muito grande e muito calvo. Tenho mais anos do que gostaria, sou casado e tenho dois filhos, Óscar e Pablo, de 28 e 24 anos, respectivamente. Trabalhei como jornalista, com publicidade na área de criação e, desde 1995, como escritor profissional. Sou aficionado de literatura, cinema, fotografia, quadrinhos, viagens... Adoro viajar e, embora tenha visitado vários países da América, nunca fui ao Brasil! Um erro que espero corrigir assim que puder. O que menos gosto em mim mesmo? A impaciência. O que mais gosto? Minha imaginação e meu senso de humor, porque tornam a vida mais agradável (e espero que façam o mesmo com a vida daqueles que me conhecem e que me leem).
Como e por que começou sua carreira de escritor? (Biruta)
Meu pai, José Mallorquí, foi um escritor de novela popular muito famoso nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado; não só na Espanha, como também em muitos países da Europa e América. Sua criação mais famosa foi a série de novelas El Coyote, um justiceiro mascarado que atuava na Califórnia do século XIX. A série El Coyote teve três edições no Brasil com o título de O Coyote: a primeira, da Editora Monterrey, nos anos 40 e 50.
Pois bem, meu pai era escritor, minha casa era cheia de livros, toda minha família lia regularmente; assim, respirei literatura desde o dia do meu nascimento. Não foi estranho, então, começar a escrever quando criança. Publiquei meu primeiro relato quando tinha 15 anos e comecei a colaborar com La Codorniz (uma revista de humor muito famosa naqueles tempos) com apenas 17. No entanto, depois de me dedicar ao jornalismo durante uns anos, comecei a trabalhar com publicidade e deixei de escrever ficção durante uma longa década.
Depois, nos anos 90, quando cansei de fazer anúncios, voltei a escrever e ganhei vários prêmios, tanto nos gêneros fantástico e ficção científica como de literatura juvenil.
Então, por que sou escritor? Eu diria que por três motivos: em primeiro lugar, por herança. Em segundo lugar, por acaso. E, em terceiro lugar, porque escrever literatura, se você gosta, é um dos melhores trabalhos do mundo.
Como é o seu ambiente de trabalho? (Biruta)
Trabalho na minha casa, em um escritório de uns quinze metros quadrados, com uma janela às minhas costas e duas grandes estantes à esquerda e à direita. Na minha frente, na parede, há um enorme pôster do filme King Kong (a primeira versão, de 1933) e uma reprodução da Pedra de Roseta. Nas prateleiras das estantes, além de muitíssimos livros, há um montão de “objetos estapafúrdios”. Por exemplo, bonecos do Tintin, Watchmen, Terminator, uma coleção de robôs de corda, caleidoscópios, brinquedos de latão, giroscópios, máquinas a vapor em miniatura... enfim, uma loja de bugigangas.
Enquanto estou escrevendo um livro (agora, por exemplo), meu escritório vai ficando bagunçado progressivamente; ele se enche de papéis, e há um montão de livros de consulta pelo chão. Depois, quando acabo de escrever a novela, arrumo tudo. E daí a bagunça recomeça.
No seu livro que tive a oportunidade de ler – As Lágrimas de Shiva –, podemos encontrar diversos gêneros na história como romance, policial e suspense. Qual é o seu gênero preferido de escrever? E de ler? (Blog Coisa e Tal)
Acho que me sinto à vontade escrevendo qualquer gênero. Quer dizer, o que me interessa é a história que quero contar, e não o gênero ao qual ela pertence. No entanto, se tivessem me feito essa pergunta há, digamos, vinte anos, teria respondido que meu gênero favorito para escrever era a fantasia e a ficção científica. Mas, agora diria que o gênero com o qual me dou melhor, como escritor, é o de aventura clássica.
E, quanto à leitura, aprecio qualquer gênero, mas suponho que tenho um carinho especial pelo fantástico, ficção científica e suspense.
Como é a escolha e a pesquisa para ambientar uma história, como no caso d'As Lágrimas de Shiva, que se passa quando o homem chegou à Lua? (Blog Coisa e Tal)
Em julho de 1969, quando o homem pisou na Lua pela primeira vez, eu acabava de fazer dezesseis anos. Fui testemunha daquela época, por isso não precisei pesquisar para escrever sobre ela. Na verdade, em As Lágrimas de Shiva há muitos detalhes tirados da minha própria biografia.
Perguntas sobre A Ilha de Bowen
cuidado! pode conter spoilers... ;)
Como surgiu a inspiração para construir personagens tão complexos e que ao mesmo tempo se encaixam perfeitamente na trama? Hoje, depois de tantas opiniões de leitores a respeito do livro, você mudaria algo em algum personagem? (Blog Confraria Cultural)
Há tempos percebi que, em um romance, a história que você conta e os personagens que a protagonizam são igualmente importantes. Se os personagens não o interessam, por que iria ficar interessado no que pode acontecer com eles? No caso de A Ilha de Bowen, isso era ainda mais importante, pois eu sabia que iria ser um livro longo e, além disso, queria escrevê-lo no estilo do gênero clássico de aventuras. Isso significa que o romance teria uma primeira parte muito grande antes de começar a aventura. Como manter o interesse do leitor durante essas páginas em que não acontece grande coisa? Bem, além de criar muito mistério, dar ao leitor os personagens mais fascinantes que eu conseguisse imaginar e oferecer-lhes os diálogos mais intensos que pudesse escrever.
Por outro lado, do meu ponto de vista de escritor, eu sabia que iria levar pelo menos um ano para escrever o romance. Muito tempo. Por isso criei um grupo de personagens com as quais eu me daria bem, o tipo de gente com a qual eu gostaria de fazer uma viagem tão longa.
Mudaria algum personagem? Bem, no geral não. Um caso curioso é o de Kathy, filha de Elisabeth Faraday. Conforme ia avançando a história, menos eu gostava dela. E muitos leitores acham o mesmo: é um personagem difícil de agradar. No entanto, se um personagem escapa do meu controle e fica um pouco antipático, significa que ele está vivo e tem autonomia. Isso é bom, por isso deixei como estava. Afinal, em uma viagem, você não vai se dar bem com todo mundo.
Não obstante, Aleksander Ardán, o antagonista da narrativa, é um personagem que se perde um pouco no final da história. Muitos leitores apontaram isso, e acho que têm razão. Suponho que mudaria um pouco esse personagem; mas já é tarde demais...
A ambientação bem descrita, os personagens complexos e os fatos bem desenvolvidos aguçaram a minha imaginação e tornaram a leitura mais fluida. Em sua opinião, foi mais difícil desenvolver as personalidades dos personagens ou descrever os ambientes de forma clara e completa para o leitor, sem se tornar cansativo? (Blog Confraria Cultural)
O primeiro personagem que desenvolvi, antes de escrever uma única linha, foi o professor Zarco e, quase simultaneamente, Samuel Durango e Elisabeth Faraday. Depois, fui criando os demais. Havia um problema quanto aos três personagens principais: Zarco tem uma personalidade muito forte e seria fácil eclipsar os demais personagens, por isso usei a senhora Faraday como contrapeso. Ela é seu oposto luminoso, por assim dizer.
Bem, o personagem de Samuel Durango era muito importante, porque ia assumir um grande protagonismo no final da história. No entanto, do lado de Zarco, o pobre Samuel, um jovem tímido e retraído, corria o risco de simplesmente desaparecer, de passar despercebido. Para evitar isso, ele é o único personagem que permiti se expressar em primeira pessoa, reproduzindo as páginas de seu diário pessoal.
Quanto a minha forma de realizar as descrições, utilizo uma técnica especial. Em vez de descrever tudo de uma vez só, em passagens longas, vou intercalando as descrições com ação e diálogo, de forma que o leitor possa perceber o ambiente e visualizar as cenas sem esforço.
Qual foi a sua inspiração para a Sra. Faraday? (O Clube da Meia Noite)
Há um tempo uma jornalista me perguntou algo que me deixou desconcertado: por que todas as minhas personagens femininas são meninas ou mulheres fortes e independentes, com muita personalidade? Eu nunca havia pensado sobre isso, mas depois de refletir um pouco me dei conta de que era isso mesmo. Minha resposta foi: “Suponho que é porque eu goste de mulheres que são assim.” E acrescentei: “Até me casei com uma delas”. Inclusive, suponho que a inspiração para a senhora Faraday veio de María José, minha mulher.
Bastou começar a planejar a história para me dar conta de que tinha um problema: Zarco é um personagem tão potente, tão avassalador, que corria o risco de tomar posse por completo da história. Para solucionar, era preciso criar um personagem tão forte como o professor, alguém que pudesse enfrentar-se com ele, e esse personagem foi a senhora Faraday. Uma mulher com tanto caráter e tenacidade quanto Zarco; mas, enquanto ele é um bruto mal-humorado, ela é pura amabilidade e cortesia.
Pude perceber que Zarco é um professor ranzinza, além de machista. Porém, suas qualidades sobressaem muito mais do que seus defeitos. Isso faz com o que leitor se apaixone por ele e queira ter um professor igual. Ao caracterizar Zarco, você se baseou em algum professor que teve quando era adolescente? (Blog Eu vivo lendo)
Zarco é um personagem muito divertido, que chama a atenção, alguém com quem se deseja estar... na ficção. Porque na vida real uma pessoa como Zarco seria bastante insuportável. Imagine estar com alguém que, ou bem te ignora (como faz com Sam durante toda a história) ou bem te transforma no alvo de dardos verbais. Imagine, além disso, se fosse seu professor, que tem autoridade sobre você... isso não seria tão divertido, não é verdade?
Os colaboradores de Zarco (Sarah, Cairo, Verne...) gostam dele porque o conhecem e sabem que, por trás da aparência de homem das cavernas, ele tem um montão de coisas boas. Mas se não o conhecem... Bem, a senhora Faraday não o suportava no início, Kathy nunca chega a se dar muito bem com ele. E Samuel o aceita porque, enfim, ele é um bom companheiro. O caso é que felizmente eu nunca tive um professor como Zarco.
Sabe em quem me inspirei para criar Zarco? Você vai se surpreender com a resposta: em mim mesmo. Sou uma pessoa com muita personalidade, muito impaciente e com certa propensão ao sarcasmo. Pois bem, parti daí para criar o personagem, mas exagerando nessas características. E acrescentando outras, como o machismo, porque eu sou o contrário. Zarco não sou eu, mas sua essência está em mim.
Dentre os personagens criados por você, qual deles é o mais especial ou o seu favorito? (Blog Da Imaginação a escrita)
Temo que a minha resposta não vá ser lá muito original. Como acontece com a maior parte dos leitores, meu personagem favorito é o professor Zarco. Mas bem, a senhora Faraday e Samuel Durango estão bem próximos, e o Samuel talvez seja o personagem mais humano de todos.
César, apesar do final fechado em A Ilha de Bowen, há a possibilidade de outra aventura com o professor Zarco e sua equipe? (Blog Da Imaginação a escrita)
No meu blog, La Fraternidad de Babel (http://fraternidadbabel.blogspot.com.es/), em dezembro, tenho o costume de oferecer aos meus leitores um conto de natal. No ano passado se chamava Nochebuena en Kaluvalula, e foi protagonizado pelo professor Zarco e a tripulação do Saint Michel (a ação acontece um ano e meio antes do sucedido em A Ilha de Bowen). Se quiserem ler, aí o têm. Mesmo que esteja em espanhol.Se planejo escrever outra história protagonizada pelo professor Zarco e a equipe do SIGMA? Sim, todos os dias, tenho muita vontade. Inclusive tenho pensado em um dos cenários que usaria: o Tibet. Mas... Escrever A Ilha de Bowen foi um trabalho muito longo e complexo que me absorveu demais. De algum modo, essa história se apoderou de mim e, quando a acabei, tive dificuldades em escrever. Foi uma experiência muito intensa, quase traumática. Por isso, agora prefiro escrever sobre outras coisas, me refrescar com histórias diferentes. Mas é muito provável que algum dia retome Zarco, Cairo, Sarah, Samuel, Verne e Lisa Faraday... e os faça protagonizar uma nova aventura. Veremos.