Feira Internacional do Livro de Guadalajara

Feira Internacional do Livro de Guadalajara

Carolina Maluf, coordenadora editorial da Biruta e Gaivota, esteve no programa de fellowship de Guadalajara. Em artigo no PublishNews, contou sobre a experiência:

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Em março, recebi um e-mail da Feira Internacional do Livro de Guadalajara me convidando a me inscrever no programa de fellowship, que, no ano de 2022, seria voltado às editoras infantojuvenis. Uma das prerrogativas para inscrição era que a editora nunca tivesse participado da feira.

Sempre tive bastante curiosidade de visitar a FIL, então me inscrevi. Em junho, outro e-mail - fui aceita no programa.

O programa de fellowship de Guadalajara custeia a passagem de forma quase integral e a estadia durante os cinco primeiros dias da feira – dedicados aos profissionais da área – e prepara uma rica programação para os editores. Em contrapartida, as editoras compram uma mesa no Rights Center.

Cheguei a Guadalajara na sexta-feira, 25 de novembro, à tarde. No sábado de manhã, dia do início da feira, encontrei, no lobby do hotel – junto com o Uriel, que seria nosso guia – outros seis participantes do fellowship: Alise Nigale, da Letônia (Liels un Mazs); Anze Mis, da Eslovênia (Mis d.o.o); Jenni Erkintalo, da Finlândia (Etana Editions); Katalin Vás, da Hungria (Móra Publishing House); Valentina Mai, da Itália (Kite Edizioni); e Valérie Picard, do Canadá (Monsieur Ed). 

Grupo do fellowship e Uriel, do lado de fora do pavilhão

 

Foi uma seleção especial. As pessoas eram incríveis, e o grupo se conectou desde o primeiro dia. Ficamos muito à vontade uns com os outros e demos boas risadas.

Com uma van à nossa disposição, chegamos ao pavilhão da feira no primeiro dia. O Uriel nos levou direto a uma sala do Business Center onde conhecemos o Armando, que, entre outras funções, organiza o programa de fellowship. A sala logo virou nosso "office"; um ponto de encontro para diferentes atividades e também para tomar um café.

Seguimos para uma apresentação sobre o mercado editorial ibero-americano. Única latino-americana do grupo, acompanhei com interesse as reações do grupo e o que cada um sabia – ou não – sobre a região.

A atividade seguinte foi a cerimônia de abertura da feira, realizada em um auditório bem cheio. Depois, voltamos ao nosso "office" para nos apresentarmos uns aos outros. Foi quando descobrimos coisas em comum que nos ajudaram a nos conectar. Além de alguns de nós terem vivido ou estarem vivendo momentos de vida parecidos, trabalhamos em editoras semelhantes, em tamanho, proposta, linha editorial – havia inclusive uma editora com uma composição familiar bem próxima à nossa. Aprendi que Biruta, na Letônia, é um nome próprio.

Cerimônia de abertura

No sábado, também tivemos um "Luncheon", como aparecia na nossa programação. O almoço, formal e para mais de 200 pessoas, homenageava Sharjah – um dos sete emirados dos Emirados Árabes Unidos –, convidado de honra da feira. Aconteceu no mesmo horário do jogo México x Argentina, e não havia nenhum telão no ambiente – expliquei que, no Brasil, isso seria impensável. Sábado foi a única noite livre que tivemos, e aproveitamos para ir a um bar, acompanhados de outros editores.

Homenagem a Sharjah na entrada do "Luncheon"

 

Nos dias que se seguiram, a programação seguiu intensa. Em todos os dias visitamos estandes de editoras, grandes e pequenas, de países de língua espanhola – argentinas, colombianas, chilenas, espanholas e, claro, mexicanas. Foi interessantíssimo, não só para ver de perto suas produções, como para conhecer um pouco de suas trajetórias. Conhecia parte das editoras, mas também fiz boas descobertas. A história que mais me tocou foi a da Tecolote. Fomos recebidos pela fundadora, Cristina Urrutia, e ela, por sua personalidade e pela história de sua editora, me lembrou muito minha avó Eny – uma das fundadoras da Biruta, que infelizmente faleceu neste ano.

Grupo do fellowship com Cristina Urrutia, da Tecolote

No domingo, nos levaram para um almoço em um restaurante de comida mexicana, seguido por um tour pelo centro histórico de Guadalajara. Tivemos ainda outra apresentação, dessa vez sobre a literatura e as editoras latino-americanas. À noite, uma festa bem animada da Livraria Carlos Fuentes, no complexo da Universidade de Guadalajara.

Ao longo dos demais dias tivemos alguns períodos livres para reuniões. Aproveitei também para rodar a feira com calma. Eram dois pavilhões, um mais voltado às editoras estrangeiras e áreas de negócios e outro, às editoras mexicanas. O pavilhão nacional me lembrou bastante a Bienal do Livro de São Paulo, pela organização espacial e pela presença de editoras de diferentes portes, editoras universitárias, distribuidores, estandes de saldão de livros, estandes de outros itens, como papelaria etc.

Um dos pontos altos da feira, bastante diferente de tudo que já vi – meus colegas estrangeiros disseram o mesmo –, foram as oficinas da FIL Niños. Atividades ricas e inteligentes, programação diversa e um espaço físico colorido e bonito. Fizemos um tour completo pelo espaço, que recebe bebês, crianças e jovens para oficinas inspiradas por livros; não necessariamente livros infantis, mas títulos que se conectam ao tema transversal escolhido para este ano, o das mudanças climáticas. As oficinas eram ministradas por pessoas da área da atividade, como poetas, ilustradores, músicos, mergulhares (!) etc. Havia ainda uma apresentação teatral para as crianças, que acontecia depois das oficinas. De manhã, escolas visitavam o espaço e, à tarde, pais e responsáveis pelos pequenos. Em 2021, mais de 40 mil crianças frequentaram as oficinas.

Fil Niños

 

Nos demais dias, tivemos outro "Luncheon", dessa vez em homenagem ao ganhador do Publisher's Merit Award, e mais programação noturna: outra festa em uma livraria, uma grande recepção para editores e outros profissionais da área na casa do diretor da FIL Guadalajara, Raúl Padilla, e o jantar de despedida do fellowship em um restaurante delicioso, o La Tequila.

O grupo do fellowship e Uriel, no restaurante La Tequila

 

Foi uma experiência riquíssima, alegre e inspiradora. É sempre renovador conhecer histórias de outras casas editoriais e encontrar semelhanças onde achávamos que não haveria. Há muito em comum no dia a dia de editores de países com culturas e mercados diferentes, como Brasil, México, Hungria, Finlândia e Itália. Há também muitas diferenças, claro, e aprendemos com elas.

Volto feliz por ter participado do fellowship, entusiasmada com conexões e trocas que fiz – não só sobre trabalho, mas também sobre momentos de vida –, e renovada, com novas ideias na mala.

Abaixo, mais fotos da minha semana em Guadalajara.

 


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